• Cortes na UFSJ retiram R$ 17, 4 mi da economia



      Não são raros os “estranhamentos” entre os barulhentos estudantes da UFSJ e a conservadora população de São João del-Rei, que abriga três dos sete campi da instituição. Mas uma coisa é certa: o corte de 32% das verbas da UFSJ afeta a todos. Além dos prejuízos para o ensino, a pesquisa e a extensão, pelo menos R$ 17,4 milhões deixarão de circular na economia.

      De acordo com o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da UFSJ, Gustavo Melo Silva, o orçamento geral da instituição para 2019 era de aproximadamente R$ 337 milhões. Desse total, R$ 278 milhões são direcionados ao pagamento de aposentados, professores e técnicos administrativos e estão garantidos. O corte atingiu em cheio foram os R$ 57,9 milhões restantes, destinados às chamadas despesas discriminatórias.

      Conforme o orçamento, a verba para essas despesas seria distribuída da seguinte forma: R$ 12 milhões para o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes); R$ 3 milhões em bolsas de iniciação científica, extensão, mestrado e doutorado; R$ 30 milhões em pagamento de contratos; R$ 2,5 milhões em energia elétrica e o restante para manutenção de cursos e departamentos.

      Silva assegura que, por hora, as bolsas dos estudantes estão garantidas, assim como o pagamento dos funcionários terceirizados e das despesas já contratadas. Mas se o bloqueio de verbas continuar por um período maior ou for ampliado, os contratos entre a UFSJ e os funcionários da limpeza, vigilância, jardinagem, dentre outros, serão revisados a fim de adequar à nova expectativa orçamentária. Em outras palavras, haverá desemprego.

      Segundo o professor de Economia da UFSJ, Múcio Gonçalves, os cortes acarretam queda na geração de lucro para o comércio e para o setor de serviços. Não é só a universidade que deixa de comprar insumos e contratar insumos na região. Estudantes, professores e técnicos também deixam de consumir nas cidades que sediam os campi da UFSJ, em casos de greves e paralisações, por exemplo.


    Segundo o professor de economia da UFSJ, Múcio Gonçalves, a UFSJ tem grande influência na economia local. (Foto: Leonardo Emerson).


      Gonçalves alerta que, se a situação se agravar, há risco de que o público do meio acadêmico que não é da cidade em que estuda ou trabalha retorne ao seu município de origem – potencializando esse prejuízo.

      Só a UFSJ possui cerca de 7,8 mil estudantes que gastam, em média, R$ 1 mil por mês para cursarem a faculdade, conforme pesquisa inédita realizada com 457 alunos pela reportagem da Quintindica. Somam-se a eles, os 850 professores e 550 técnicos, com poder aquisitivo maior.

      A estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFSJ, Lavínia Gregatti, está preocupada. Natural de Lambari, sul de Minas, ela gasta em torno de R$ 800 por mês para se manter em São João del-Rei. Seus principais gastos são com supermercado e farmácia, os mesmos locais frequentados pela maioria dos estudantes que respondeu à pesquisa.

      Moradora de república não tradicional, ela divide R$ 975 de despesas com as colegas. “Se ocorrer uma greve duradoura, podemos até vir a rescindir nosso contrato de aluguel”, menciona.


    Infográfico com dados proveniente da pesquisa aplicada.
    Infográfico; Fernanda Nakashima
      Diretor-jurídico do SindComércio de São João del-Rei, Emanuel Vitoreli, afirma que a entidade não possui uma pesquisa sobre o impacto da universidade e seus agentes na economia do município, mas reconhece que tal grupo tem grande relevância em setores como o de mão de obra, construção civil, alimentício, mobiliário, entre outros.

    Corte x contingenciamento
      O governo Bolsonaro e seus apoiadores afirmam que o que houve foi um contingenciamento – bloqueio de verbas feito para conter gastos. Já seus críticos alegam que foi um corte – que é definitivo. Mas, a respeito da disputa de narrativas, o efeito prático imediato do contingenciamento ou do corte é o mesmo: menos dinheiro circulando na economia.

      O processo de bloqueio de verbas da educação vem ocorrendo de forma contínua desde o início da crise econômica e política do país. Segundo o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, de 2014 a 2018, a UFSJ sofreu cortes de aproximadamente R$ 50 milhões.

      O congelamento de recursos é determinado após análise da Lei Orçamentária Anual (LOA), que estima a quantidade de impostos arrecadados para a elaboração do planejamento de quanto e onde se deve gastar. “Quando o valor está abaixo é que acontece bloqueio de orçamento, então deve-se gastar menos”, explica Silva.

      O novo corte anual em maio pelo governo Bolsonaro traz impactos mais profundos pela sua proporção. No país inteiro, foram R$ 5,8 bilhões bloqueados para a educação infantil, universidades públicas e institutos federais.


    Texto por: Felipe Souza e Fernanda Nakashima
    Fotografia: Leonardo Emerson
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