• Resistência negra

    Espaço P trabalha auto-estima das pessoas periféricas e pretas


      O Brasil tem um passado escravocrata e um presente racista. É o país que mais traficou africanos para o trabalho escravo e o último a “abolir” a escravidão.

      O censo geral do Brasil de 1872 indicava que, em Minas Gerais, 370 mil pessoas eram escravizadas, sendo a província de maior estatística do Brasil. No mesmo ano, São João-del Rei apresentava uma população total de 36 mil habitantes, entre eles 8 mil escravizados.

      São João del-Rei é uma cidade construída com sangue negro. Uma caminhada por suas ruas é suficiente para atestar isso. Mas, para além do legado de violência, é um lugar onde negros existem e resistem. Segundo o IBGE, 41% da população são-joanense é negra.

    Na Igreja do Rosário os negros escravizados faziam seus cultos e reuniões religiosas 

      A geógrafa Bruna Lúcia dos Santos afirma que um dos legados da escravidão na cidade é a segregação espacial. “Mesmo que o número da população negra autodeclarada seja menor em São João, a maior parte dele se concentra nos morros e bairros periféricos da cidade”, afirma.

      Essa história de resistência negra está marcada na ancestralidade de Damyana Silva, trancista e idealizadora do Espaço P, um estúdio de estética negra com foco em tranças. Sua família biológica foi uma das primeiras a morar no Ribeirão, uma cachoeira no final do bairro Senhor dos Montes. “É um buraco, muito longe. Eu fico pensando porque os pobres vão se afastando do centro, principalmente uma família preta. Não por ser um lugar escasso, mas um lugar escondido. Um lugar só nosso”, acredita.

      Damyana é militante e considera a resistência negra na cidade massacrante e cansativa. Ela conta que os grupos de Maracatu e Congado enfrentam há anos os mesmos problemas enfrentados pela organização do “Rap na Bika”, evento de rap e hip-hop que ocorria na praça da Biquinha, no Tijuco, mas está paralisado por falta de apoio. “É muito cansativo e bem desrespeitoso. O que salva é o amor que a gente tem pelo que a gente faz”, explica.

    Estética negra

      Quando chegamos ao Espaço P, Damyana estava trançando o cabelo de Lara, uma menina negra que queria ficar igual a Rapunzel. “Mas a Rapunzel dela é diferente, é pretinha e trançada”, conta Damyana. Essa é a missão do Espaço P: trabalhar a estima das pessoas periféricas e pretas.

      Damyana considera a estética importante porque é uma forma de brincar com a moda, se empoderar e transmitir uma mensagem. “Quando as meninas colocam trança, eu acho que elas querem dizer para o mundo que estão se encontrando consigo mesmas”, comenta.

    Resistência em forma de tranças

      O Espaço P funciona na R. Joaquim de Assis Pereira Mestre, n. 380, no bairro Dom Bosco, e oferece aplicação de tranças nagô, dread de lã e box braid. Os preços variam de R$25 a R$130.

      Para agendar, basta entrar em contato pelo WhatsApp (32) 9 9809-9861.

    Texto por: Luciana Petersen
    Fotografia: Bárbara Morais
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